Turismo

Conexões reais: o futuro do turismo de luxo  

Na próxima semana, São Paulo sediará um dos mais importantes eventos internacionais do turismo alto padrão: a ILTM Latin America. O prédio da Bienal que há poucas semanas acolheu artistas plásticos, na primeira edição da SP–Arte pós pandemia, abraçará os especialistas na arte de bem receber. Destinos turísticos paradisíacos, hotéis lendários, travel designers e companhias aéreas se encontrarão para trocar experiências, apresentar novidades e, é claro, entabular muitos negócios. Para outsiders:  a ILTM está para os profissionais de turismo o que a semana de moda parisiense está para os fashionistas.

À frente da maratona que reunirá especialistas em excelência e savoir faire está Simon Mayle.  Sim, trata-se de uma grande e feliz coincidência que o diretor de eventos de turismo da RX Global e comandante da ILTM Latin America tenha o mesmo sobrenome do escritor inglês que melhor compreendeu o bom gosto e foi um embaixador extraoficial da Provence no universo anglo-saxão.

Se compartilhar é tendência no mercado de alto padrão, já que generosidade é atributo do luxo, o executivo mostra que em casa de ferreiro o espeto não é de pau. Simon aponta algumas pistas, nesta entrevista, do futuro do turismo de luxo no mundo. Para isso recorre às novidades que serão apresentadas entre os dias 3 e 6 de maio. Viagens transformadoras, sustentabilidade e respeito à diversidade serão ativos fundamentais, assim como verdadeira conexão com lugares e pessoas.

Les Cinq Sens: A ILTM Latin America volta robusta, para a Bienal, na primeira semana de maio. Quais as grandes novidades do evento para 2022?

Simon Mayle: Teremos muitas novidades na edição deste ano porque o turismo de luxo foi um setor que amadureceu muito durante a pandemia. Como os negócios são mais estáveis, durante os períodos de isolamento em que as pessoas não podiam viajar, os hotéis e serviços se preparam e se modernizaram para a volta da demanda reprimida de viajantes ainda mais exigentes. Muitas propriedades passaram por reformas, novos hotéis foram construídos e o que era bom, ficou ainda melhor. Muitos destinos também se fortaleceram e estão muito animados com a ILTM. Suíça e Portugal, por exemplo, estarão presentes no evento com grandes delegações. Outros destinos que nunca estiveram no evento vão marcar presença neste ano, como é o caso de Saint Barth e do Rio Grande do Norte, primeiro destino nacional a participar da ILTM. Estamos muito animados.

LCS: A sustentabilidade e diversidade tornaram-se “commodities” para o turismo de alto padrão. Não são mais diferenciais, assim como excelência nos serviços, design e tecnologia. O que é diferencial hoje no segmento?

SM: Os viajantes de luxo buscam experiências significativas, de conexão com os lugares e com as pessoas. Sempre foi assim, mas depois da pandemia, as conexões reais fazem cada vez mais sentido. O diferencial do segmento é oferecer experiências marcantes. Não importa se é pelo design ou uma tecnologia nova, o que vai fazer as pessoas lembrarem da viagem e desejarem voltar são as sensações que elas tiveram. Estar próximo das pessoas, conhecer a cultura local sem muitos intermediários, por exemplo.

LCS: Qual a diferença do turista brasileiro para os europeus e norte-americanos, quando falamos de viagens high end?

SM: Uma das principais diferenças é que o turista brasileiro viaja em grupos, normalmente em família. O brasileiro gosta de dividir a experiência, de compartilhar. Então todos os serviços e experiências oferecidas que podem acomodar grupos fazem muito sucesso com esse público. Os europeus e norte-americanos viajam mais a dois, mas todos os públicos de luxo buscam experiências de conexão, roteiros conscientes com o meio ambiente e com o impacto local. E, naturalmente, os europeus e norte-americanos buscam muito um turismo de natureza que os brasileiros e latinos estão mais acostumados. Para o hemisfério norte ter praia o ano inteiro é um luxo.

LCS: Os millenials e consumidores da geração Z mudaram completamente o jeito de se consumir produtos de luxo. Isso é o que dizem grandes grupos como LVMH e Kering. Como tais clientes poderão impactar o turismo nos próximos anos?

SM: Pesquisas recentes mostram que quase a totalidade dos consumidores jovens interagem com as marcas e os seus produtos quase exclusivamente através da internet e das redes sociais. Além disso, aparecem como o público que se sente mais atraído por dois fenômenos em forte ascensão: as colaborações criadas pelas marcas e a compra de produtos de segunda mão. Estamos vendo que as marcas têm demonstrado todo o interesse em se preparar para estes futuros consumidores e têm se adequado a isso.

LCS: Fala-se muito de viagens espirituais, não necessariamente religiosas, como motivação. Especialistas dizem que é a busca do self. Nesse sentido vale meditação no Nepal e Katmandu, rituais na Grécia e Egito. Tal oferta se verifica no mercado de luxo?

SM: Sim, a oferta é enorme. A Suíça é famosa por suas opções médicas e científicas de bem-estar, como encontramos no The Burgenstock Collection, por exemplo. Leading Hotels of the World’s Chable Yucatan e também Maroma são reconhecidos como alguns dos melhores hotéis focados no bem-estar espiritual e mental, que incluem inclusive experiências místicas. Hyatt Hotels tem como foco global a promoção de bem-estar e adquiriu a marca Mirival, que é 100% voltada para o bem-estar mental e físico.

LCS: Além do tradicional circuito Elizabeth Arden, que outros destinos despontam como favoritos?

SM: A grande tendência pós-pandemia são viagens de maior duração, mas não necessariamente com grandes distâncias. Os norte-americanos, por exemplo, têm voltado com muito entusiasmo à América Latina. O México foi o país da região que mais recebeu visitas na retomada do turismo. Estadias mais longas e destinos de natureza têm tido muita procura, as pessoas redescobriram esse tipo de viagem e estão muito interessadas em aproveitar mais propriedades com muitos serviços e experiências em um mesmo lugar ou em curta distância.

LCS: Quais são as principais tendências do turismo de alto padrão para os próximos 10 anos?

SM: Acho que é cada vez mais difícil falar em prazos tão longos com a velocidade que o mundo está mudando. Mas podemos apostar ainda em destinos de natureza, seja floresta, praias ou neve. Com a pauta ambiental cada vez mais em destaque, teremos com certeza um movimento ainda maior de viagens com propostas sustentáveis, privilegiando destinos que tenham projetos efetivos de preservação não só da natureza como das comunidades locais.

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