Durante a pandemia, o Brasil foi um dos países que mostrou menor retração do mercado de luxo. Produtos do segmento continuaram sendo adquiridos pelos consumidores de maior poder aquisitivo que, sem poder viajar e consumir no exterior, passaram a fazer suas compras no Brasil. Isso também aproximou o público brasileiro dos brechós especializados em marcas internacionais de luxo, que dispõem de peças vintage e por um valor mais acessível.
O mercado de usados vem crescendo no setor de moda, e grandes empresas como Renner e Arezzo estão entrando nesse segmento, com a aquisição dos brechós Repassa e Troc, respectivamente. Não teria porque ser diferente com a moda de luxo: com crescimento acelerado e recorde de vendas em julho de 2021, a INFFINO Second Hand Luxury é um exemplo de empresa que atende o público interessado em moda de grife. Especializado em marcas internacionais, o brechó atua como e-commerce desde 2010 e quintuplicou seu faturamento nos últimos dois anos.
De acordo com a sócia Roberta Silbermann, a empresa vem crescendo exponencialmente nos últimos três anos: “Cada vez mais pessoas estão aderindo à ideia de desapegar de suas peças e de comprar produtos no second hand. Há alguns anos atrás, essa ideologia mais sustentável e de fazer a moda circular não era tão comum, mas vimos essa tendência crescer em países da Europa e nos Estados Unidos. Agora, está chegando ao Brasil também”. No caso da moda de luxo, um dos atrativos dos brechós é a possibilidade de encontrar coleções vintage, que não estão mais disponíveis no mercado primário, e também adquirir peças de grifes a preços mais acessíveis.
Desejo versus sustentabilidade
Mas, afinal, o que desperta o desejo pelas marcas de luxo? O que move um consumidor que busca por produtos de grifes internacionais? De acordo com a sócia-fundadora da INFFINO, Mila Silbermann, são vários fatores: “Desde a procura por itens de qualidade e mais duradouros, até a vontade de saber que possui um produto exclusivo. Muitas coisas mobilizam um consumidor para que ele adquira itens de luxo, passando também por questões de posicionamento social, valores emocionais e até um certo perfeccionismo de quem procura marcas de luxo, que vão oferecer produtos de alta costura”.
Por outro lado, hoje, as gerações mais jovens, como os millennials e a geração Z, estão mais atentos a questões como sustentabilidade e consumo consciente. Isso não impede que desejem e comprem produtos de grifes, mas muda a forma como chegam até eles: “Não necessariamente uma pessoa de qualquer idade, mas que tenha uma cabeça mais aberta para o sustentável, vai deixar de adquirir uma bolsa, uma roupa, um acessório de uma marca conhecida. Mas é muito possível que opte pelo second hand, que diminui o impacto ambiental daquela compra”, comenta Mila.
Quando um produto circula mais e passa por mais de um proprietário, ela contribui da seguinte forma: primeiramente, evita que uma peça em boas condições seja descartada pela simples falta de uso; em segundo lugar, evita que uma segunda peça precise ser produzida. De imediato, parece não fazer muita diferença. Mas, a longo prazo, isso interfere na demanda dos fabricantes, que passarão a produzir menos e, consequentemente, utilizar menos recursos e gerar menos resíduos.
Fonte de renda
Não é apenas o consumo de produtos de luxo de segunda mão que traz benefícios e, para que um segundo proprietário possa adquirir a peça em um brechó, é preciso que o consumidor original desapegue. De acordo com Roberta, o desapego de luxo vem crescendo, pois muitas pessoas perceberam que as peças paradas no armário poderiam ser uma fonte de renda: “Além de impulsionar o consumo consciente e evitar um descarte desnecessário, vender itens de luxo gera dinheiro, que muitas vezes é usado para renovar as peças, adquirindo algo de coleções novas, por exemplo”.