Arte & Cultura

Você é o seu principal produto

Quando você abre a boca, surpreende ou decepciona?

Quem é você? Quem sou eu? Quem somos nós? Perguntas simples, respostas complexas. Definições não são fáceis e mais complicadas ainda se tornam quando tentamos traduzir pessoas. Há um paradoxo implícito, pois quanto mais difícil for encontrar denominações e adjetivos, mais interessante essa pessoa será. Podemos dizer então que quanto mais misterioso e indecifrável for alguém, mais conteúdo, mais repertório, mais bagagem cultural e muito mais experiência de vida, provavelmente, terá.

Devido a essa complexidade que todo ser humano contém, o simples interesse em perpetrar tais comportamentos e ideias gera, num primeiro momento, certa indisposição e falta de vontade. Afinal, dá trabalho conhecer alguém!  Requer um esforço de nós mesmos. E, numa sociedade que busca pelo imediatismo, que julga pela imagem, tais aprofundamentos não estão na ordem do dia. Mas garanto que vale a pena o empreendimento.

A embalagem de uma pessoa é sua identidade. Sua casca é sua proteção e, até certo ponto, fundamental para sua sobrevivência. Sem nos darmos conta, definimos alguém a partir de alguns códigos imagéticos, a partir de seu vestuário, dos acessórios que ostenta, dos cabelos tratados ou não, através de sua rotina, do seu comportamento em lugares públicos, do transporte que utiliza, dos ambientes que frequenta e por aí vai.

Tudo isso, porém, não passa de certa superficialidade, de um flagrante raso e incerto. Afinal, uma pessoa medíocre pode estar imbuída de códigos, digamos, socialmente aceitáveis.  E aquele castelo imaginário que criamos a partir de uma observação analítica externa desmorona em minutos. Bastam algumas palavras, opiniões, conhecimentos precários proferidos para que nosso interesse desapareça. Inevitável será nossa decepção.

Só permanece e se solidifica aquilo que, de fato, tem valor.

O contrário de tudo isso, porém, nos impressiona, nos causa saciedade. Quando alguém profere ideias, pensamentos e palavras bem articuladas, repletas de conhecimento, de cultura, de vivência, nos surpreendemos positivamente, afinal possui, de fato, repertório de qualidade. E todo aquele pré julgamento gerado pelo contexto de sua imagem externa desaparece por completo.

O melhor de um ser humano é o que provém dele e extasiar-se com alguém é das melhores experiências que existem.

Investimos quanto em adquirir conhecimento? No saber profundo e verdadeiro que analisa, imerge e sabe conectar temas distintos? O quanto investimos em cultura, em aperfeiçoar e incrementar nosso repertório? Não me refiro apenas em simplesmente comprar ingressos para ir ao teatro ou a um concerto, mas de pesquisarmos mais acerca de um determinado programa cultural. Baseou-se em alguma obra literária? Contém elementos míticos, questões filosóficas? O que está por trás daquele texto, daquela música, daquele filme, daquela coreografia? Há que se pesquisar para que tais experiências nos apresentem outras perspectivas, outros olhares. Temos que chegar na essência.

A questão é se aprofundar, ir além, não se contentar com o raso, com o fácil, com o superficial. Nossa existência não deve ser moldada apenas pela embalagem que nos reveste, mas antes de tudo pelo aprimoramento constante de nossas virtudes, saberes e comportamentos. Somos o nosso principal produto e temos a responsabilidade de continuamente investirmos nele!

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Les Cinq Sens.

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