Olá, quero começar meu primeiro artigo me apresentado. Sou Alex Bernardes, profissional de comunicação que no meio do meu processo de amadurecimento fui picado pelo mosquito do turismo e há 14 anos estudo e aplico meu conhecimento nesta que é uma das atividades econômicas mais promissoras que existe.

Meu caminho se cruzou com o turismo em 2007 quando fui convidado a lançar a primeira revista de turismo LGBT+ do Brasil, segmento que na época ainda era chamado de GLS. Foram muitos os espinhos, pedras e muros encontrados no meio deste processo. Apesar da atividade turística ser considerados inclusiva por muitos, o que eu encontrei no trade do turismo foi preconceito, resistência ao tema, profissionais no armário e muita falta de informação.

Foram muitos anos e um trabalho exaustivo para convencer nossa indústria a entender a importância deste segmento. O sinal que mostrou que eu estava no caminho certo foi quando em 2017 criei um evento B2B para discutir maneiras de fomentar o turismo LGBT+. Sem imaginar que começava ali uma trajetória de crescimento meteórico, tive um overbooking de inscritos. Um evento experimental criado para 100 convidados e acabou com 200 inscritos. Um misto de alegria e desespero para uma pessoa que detesta dar um passo maior que a perna.

Entrando em sua sexta edição, o evento já qualificou cerca de 2.500 profissionais e acumula mais de 50 marcas expositoras, algo que coloca o evento entre os maiores do mundo para o tema que se propõe.

Mas, o que tudo isso tem a ver com turismo de luxo?

TUDO.

Quando fui convidado pelo meu amigo Ricardo Hida, editor chefe da Les 5 Sens, para escrever esta coluna, confesso que me senti inseguro. A primeira ideia que temos quando somos abordados sobre o luxo é pensar em dinheiro e ostentação. Todavia como um bom libriano, sempre acreditei que luxo de verdade seja talvez o oposto disso. O dinheiro, claro, é a porta de acesso ao luxo, mas como diz meu querido professor de comportamento do consumidor, Sérgio Lages – “Muitas vezes o comportamento de consumo vale mais do que o próprio poder de consumo”.

Mesmo com todos os avanços conquistados pela comunidade LGBTQIA+ no decorrer dos 14 anos em que estou envolvido com o tema, ainda hoje não temos muitos números concretos que possam nos guiar neste oceano de oportunidades.

Alguns dados imprecisos estimam uma comunidade LGBTQIA+ brasileira com cerca de 20 milhões de pessoas, uma população maior do que muitos países ao redor do mundo. Mais do que isso, economicamente falando, as cifras rompem a casa dos bilhões.  Já nos Estados Unidos, país que ama números, pesquisas e planejamento, a última estimativa revelou que a comunidade LGBTQIA+ daquele país representa cerca de US$3 trilhões em poder de consumo em 2022.

Claro que, mesmo com essas cifras impressionantes, não é todo mundo que tem a chance de consumir turismo de luxo com tanta frequência. Apesar de alguns desavisados ainda acreditarem no mito de que todo LGBTQIA+ esteja no topo da pirâmide, costumo reforçar que somos um recorte da sociedade. Temos membros em todas as classes sociais. A diferença neste caso é o comportamento de consumo já citado acima.

Uma pesquisa do Uol Lab revelou que mais de 50% do público que consome arte no Brasil faz parte da comunidade LGBTQIA+, e convenhamos, não é barato consumir arte por aqui. Este comportamento também se replica nas viagens. Um observatório da prefeitura do Rio de Janeiro no carnaval de 2017 revelou que o turista LGBT+ nacional injetou na cidade o dobro deixado pelos turistas heterossexuais durante o carnaval daquele ano. Já o turista LGBT+ internacional, pasmem, deixou o triplo.

Outro indicador que conecta este público com o turismo de luxo é a ocupação dos hotéis de alto padrão da região da Av. Paulista na semana da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, a maior do mundo. Uma conversa informal com as gerências do Renaiscensse, Tivoli, InternContinental, Meliá Paulista e L´Hotel, revela sempre uma resposta unânime: já estamos lotados, e todo ano é a mesma coisa.

Só para deixar claro, esta ligação do consumidor LGBTQIA+ com mercado de luxo não é de hoje e tem uma explicação em algo que costumamos chamar de “fator compensação”.

Nascemos e crescemos em uma sociedade paternal e ainda machista, que descrimina e minimiza tudo que esteja ligado ao universo feminino. Para chegar aos postos mais altos da sociedade, homossexuais, principalmente os mais afeminados, precisam estudar o dobro, trabalhar o triplo e acumular muito mais conhecimento do que uma pessoa heterossexual.

São atividades como estudo de idiomas, artes, leitura, gastronomia, arquitetura, design e estética que estão diretamente ligadas ao luxo e que pelo fator compensação também fazem parte do nosso. Uma ligação inegável, que convenhamos, bom para nós. O que seria do mundo sem esse “savoir faire”.

Para encerrar este primeiro artigo, gostaria de deixar claro que não estou aqui como dono da verdade. Meu objetivo é trazer novidades sobre este segmento e guiar quem queira, de alguma forma, estar mais perto deste consumidor. Quero ajudá-lo a encontrar um caminho mais assertivo, sem afetações e estereótipos, mas com respeito e orgulho.

Abraço.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Les Cinq Sens.

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