Turismo

Luxo parisiense-amazonense de Caroline Putnoki

por Barbara Teisseire

Para Caroline Putnoki, Hermès e Lenny Niemeyer são marcas essenciais no closet de uma pessoa sofisticada. Alta e esguia, ela sintetiza a elegância parisiense. Em francês díriamos chic, cultivée e charmante. Madame explica sem hesitação que a confeitaria francesa é algo com o qual pode se deliciar sem culpa. Diretora da Agência de Desenvolvimento Turístico da França – Atout France da América Latina, ela também falou um pouco sobre as tendências atuais do mercado e as que estão ganhando espaço, além dos destinos que ela recomenda no momento para quem busca uma experiência fora do comum. Nascida na Guiana Francesa, ela ressalta o quanto a Amazônia é um lugar a se explorar turisticamente, sem que seja necessário abrir mão do luxo.

O que é o luxo para você?
O luxo está associado à raridade. Para mim, isso é o tempo e é conseguir aproveitar a companhia das pessoas que eu amo.

Que marcas hoje na sua opinião traduzem melhor esse conceito atualizado do luxo?
No segmento de turismo, acredito que a AirFrance consegue passar isso sem dificuldades, porque a partir do momento em que você entra na aeronave, você já está imerso no modo de viver à francesa por conta do atendimento e da estética de uniformes, tecidos e estampas. Agora, no segmento de moda e lifestyle, a Hermès transmite muito bem essa ideia de viagem junto de um imaginário artístico sofisticado e que incentiva a sonhar.

Qual é o papel das experiências sensoriais dentro disso?
O que mais importa é a emoção. Quanto maior a promessa feita pela marca e seu produto, melhor e mais forte tem que ser a experiência oferecida por ele.

Como você compreende a relação do luxo com a sustentabilidade?
É necessário retornar ao essencial, e a natureza é um meio para isso, porque é a base de tudo. O objetivo agora é a proteção do meio ambiente e as marcas estão atentas a isso, se perguntando como manter o alto nível de sofisticação e ajudar o planeta ao mesmo tempo. É totalmente viável fazer luxo sustentável. Já temos alguns exemplos dentro do segmento da hotelaria, como o The Brando, na Polinésia Francesa, que foi eleito o hotel mais sustentável do mundo e o lodge Mirante do Gavião, na planície amazônica.

The Brando fica no atol de Tetiaroa e foi eleito em 2016 pela Condé Nast Traveler o melhor hotel do mundo. Com apenas 35 villas privativas, o resort se tornou um dos destinos preferidos dos famosos por se tratar de um refúgio dos olhares do público. O lodge Mirante do Gavião fica em Novo Airão, no Amazonas e suas habitações foram todas construídas com madeira de reflorestamento e utilizam-se de aquecimento solar.

Qual é a próxima tendência do mercado e do turismo de luxo?
Na França, eu diria que é em termos de gastronomia. O que está em alta agora é a pâtisserie e confeitaria. Todos querem ter o melhor chef confeiteiro, o mais talentoso ou o mais criativo. No setor de hotelaria, o que é tendência no momento é a hiper-personalização para o hóspede, desde o atendimento ao fazer a reserva até a experiência que ele terá ao ficar no hotel. O luxo hoje também está muito ligado à cultura. O hotel Lutetia, em Paris, tem promovido o bairro de Saint Germain, onde está localizado, a partir das grandes figuras intelectuais que ali viveram, como Jean-Paul Sartre e Boris Vian.

Boris Vian foi um poeta, cantor e escritor francês, lembrado por seus contos e livros surrealistas, como A Espuma dos Dias e O Outono em Pequim. Jean-Paul Sartre foi um filósofo que é referência em existencialismo até os dias de hoje.

Existe algum destino especificamente na França que repentinamente brilhou os olhos dos brasileiros?
Ligados ao luxo, tem dois destinos especificamente que têm chamado a atenção dos brasileiros nos últimos anos. São Courchevel, por conta da estação de esqui, e Saint-Tropez pelas marcas presentes na cidade e as festas frequentadas por celebridades. Além disso, dois outros lugares que têm recebido mais turistas brasileiros são Bordeaux e Marselha. São cidades que se transformaram e fizeram grandes reformas de suas ofertas turísticas nos últimos 15 anos.

Bordeaux, muito conhecida por seus vinhos, sempre foi destino de uma classe mais intelectualizada, mas com o crescimento no enoturismo está cada vez mais presente nos roteiros de viagem. Já Marselha é a maior cidade portuária da França. Por muito tempo, ela não foi valorizada como destino turístico, sendo apenas voltada para comércio, apesar de ser a 3ª região metropolitana mais populosa depois de Paris e Lyon. Em 2013 ela foi eleita a Capital Europeia da Cultura por sua valorização da arte e história local, principalmente sendo origem do hino nacional francês, La Marseillaise.

Quais os endereços imperdíveis em Paris?
O que eu recomendo de novidade no momento é o Beaupassage para conhecer a galeria de arte La Scène Ouverte e o restaurante Allénothèque, do renomado chef Yannick Alléno. Para comer e beber, também gosto muito de passar na loja da Hermès, a que fica na área da antiga piscina do Hotel Lutetia, para tomar um chá e então aproveitar para ir ao bar Joséphine do hotel e tomar um drink. O La Réserve, um dos hotéis palace de Paris, tem um restaurante que vale muito a pena, o La Pagode de Cos. Em questão de arte, é necessário ir ao Museu do Luxemburgo e conhecer seus lindos jardins depois de tomar um chocolate quente da cafeteria Angelina.

E qual é o destino na América do Sul que você recomenda para quem está procurando uma experiência personalizada?
Eu acredito que viagens transformam pessoas. A partir disso, eu sugiro a Amazônia como destino, tanto a francesa quanto a brasileira, porque você conhece tantas coisas novas e lindas que são pouco faladas. É um lugar essencial para qualquer roteiro de viagem. O Machu Picchu no Peru também é uma experiência transformadora. Eu fiz uma trilha Inca para chegar até o local, chegamos por volta das 5hs da manhã e a vista que tivemos foi fenomenal. A Ilha de Páscoa também, de nome original Rapa Nui, é um dos principais marcos da identidade polinésia e é uma experiência que te marca para sempre.

Você pode explicar, de forma breve, a importância dos hotéis Palace na estratégia de promoção da França?
A distinção Palace foi criada em 2010 para valorizar uma hotelaria excepcional na França. São 25 hotéis Palace que tem algumas características em comum, como excelência na gastronomia, localização fantástica e riqueza em cultura. Todos eles são considerados emblemáticos da arte de viver à francesa e transmitem esses valores.

Além do fator histórico, Louis XIV e Colbert, o que faz da França o berço dos produtos premium?
Isso tudo tem origem na história e cultura francesa, principalmente por conta da realeza e nobreza que incentivaram a procura constante por artigos de luxo e excepcionais nos segmentos de moda e até alimentação. As marcas mais tradicionais da França têm origem na aristocracia e são muito ligadas ao artesanato, como Dior, Chanel, Hermès. Por que os produtos que elas oferecem são tão caros? Porque são produtos exclusivos, que existem em pouca quantidade no mundo e que demandam muito tempo e trabalho de produção.

Há marcas brasileiras que têm em seu DNA a possibilidade de se tornarem referências no setor?
Acredito que o Fasano, tendo a estabilidade e o prestígio que tem, mostra grande vocação para se desenvolver no mercado internacional, além de já ter unidades em países vizinhos ao Brasil, como o Uruguai. A Lenny Niemeyer também, ela criou uma marca de moda praia rica em sofisticação e hoje é referência inclusive no mercado internacional.

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